Eu não gostava de Natal

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“Pai, este ano o senhor não precisa me dar presente algum neste Natal” – Perguntei ao pequeno Gabriel, na época com seus 9 anos de idade: “Por que, filho?” Ele respondeu, com um semblante bastante sério: “O ano todo o senhor já me dá tudo o que eu preciso. Quem faz aniversário é Jesus. Ele é que precisa ser lembrado por cada um de nós!”

Em um desses 25 de dezembro de minha infância recordo de uma bola que ganhamos, eu e o meu irmão mais velho, o Ronaldo. Éramos loucos por futebol. A bola foi o presente para nós dois, pois o dinheiro não dava, já que ainda restavam outros cinco irmãos, além de nós. Fomos correndo para o campo de futebol, de terra batida, que ficava a duas quadras de nossa casa. No primeiro lance, um grandalhão deu uma “bicuda” na bola, ela foi parar longe e bateu em uma ponta de pedra. “Bum!” – Lá se foi o nosso presente de Natal. Pegamos o que restou da bola e fomos embora para nossa casa, chorando, ou melhor, esgoelando de raiva! Era um misto de ira, de dor e de frustração. O presente que havíamos esperado por um ano inteiro havia ido para o “beleléu”!

Na minha infância fiquei muitas vezes olhando os coleguinhas com brinquedos novinhos e caros, ao passo que, por pertencer a uma família de muitos filhos, sempre sobrava um brinquedinho barato que logo se quebrava e me deixava de mãos vazias. Desde que os meus filhos eram ainda bem pequeninos sempre lhes falei do verdadeiro sentido do Natal. Talvez por causa de minha infância pobre, para evitar que eles passassem por tudo que passei e para não ferir o coraçãozinho deles eu sempre lhes comprava um bom presente. Naquele Natal o caçula dos filhos havia encarado com seriedade o espírito natalino que deve imperar no coração de cada cristão. Era a hora da mudança.

Nos anos de minha meninice não havia atinado para o fato de que o nascimento de Jesus é que deve ser aguardado com ansiedade. Tinha raiva daquele velhinho barbudo, que trazia o que eu não queria e presenteava as outras crianças justamente com o que eu havia pedido! Outra coisa que eu não entendia era por que o Papai Noel se vestia com uma roupa de frio, se eu morava no centro do Brasil, onde raramente a temperatura cai alguns graus. Depois que descobri que ele não existia foi que pude perdoá-lo.

Tem um Natal que não me sai da memória. Mais próximo do grande dia íamos com freqüência logo que chegávamos da escolinha, à tardinha, eu e meu irmão dois anos mais velho que eu, à Avenida 24 de Outubro, em Goiânia, para vermos as vitrines. Demorávamos horas e horas admirando aqueles presentes reluzentes, desejando por a mão em um deles. No caminho de volta para casa íamos discutindo qual seria o melhor brinquedo, e ficávamos sonhando com eles, imaginando qual deles seria o nosso. Foi naquela noite de Natal que descobri que meu pai era o nosso Papai Noel. Perto da meia-noite eu escutei o foguetório que soltaram perto de nossa humilde casa. Levantei pé-ante-pé, olhei para a árvore de Natal vazia, sem nenhum presente, e observei meu pai e minha mãe na mesa da cozinha conversando, sem notarem minha presença. Meu pai falava para minha mãe: “Não consegui o dinheiro para comprar os presentes dos meninos”. Voltei em silêncio para meu quarto. Chorei baixinho até adormecer. Os outros dois irmãos dormiam no mesmo quarto sem perceberem o que se passava comigo. Eu tinha apenas 7 anos, mas havia entendido de uma forma muito dura, que Natal não tem nada a ver com presentes. Como doeu a dor da desilusão no meu coração de criança. No outro dia, pela manhã, nem fui visitar a árvore de Natal. Já sabia que não encontraria o presente que tanto ansiava. Porém, minha mãe chamou-me a atenção: “Filho, vai lá ver o que o Menino Jesus trouxe para você” Ora, minha mãe não havia dito “Papai Noel”, mas “Menino Jesus”. Voei até a sala até a árvore de Natal, que tinha sido preparada por minha mãe, colocando algodão em seu tronco (para imitar neve) com muitas bolas coloridas espalhadas nos seus galhos. Meus olhos fixaram em um pacote bem feito. Abri com sofreguidão. Era um carrinho de plástico, um Jeep azul, com rodas brancas, daqueles bem baratos, que não custava muito. Chorei. Mas não chorei de frustração e sim de alegria, de gratidão. Sabia que aquele presente tinha sido o fruto do sacrifício de meu pai. No seu coração de homem bom e trabalhador não queria que eu ficasse triste. Abracei meu pai e lhe agradeci pelo presente.

Ah! Se tivessem me falado há mais tempo que Papai Noel não existia eu teria entendido por que as crianças pobres (como eu) quase sempre são esquecidas por ele. Eu teria me apegado mais cedo àquela “Criancinha da Manjedoura”, pobrezinha, que não teve nem bercinho para dormir sua primeira noite aqui na terra.

Eu teria entendido mais cedo a mensagem da “Criança da Manjedoura de Belém”, que sendo dona do mundo inteiro, fez a opção de viver como pobre. Fez questão de viver entre os mais pequeninos desse mundo. Viveu longe dos palácios, ela que sempre teve o trono do céu como sua morada.

Se tivessem me ensinado que Natal não é época para trocar presentes, nem para brincar de “amigo secreto”, mas é o tempo de voltar para Jesus, para o Deus da simplicidade que nada tem a ver com o nosso consumismo desenfreado, eu não teria sofrido tanto como sofri. E tudo por causa de uma grande ilusão que se desfez.

Hoje Natal para mim nada mais tem de tristeza. Para mim Natal é o tempo que sempre me volto para a “Árvore da Vida” que é Jesus. Nele tenho tudo. É Ele que não me deixa viver iludido. É Ele que se tornou o maior Presente de minha vida! Obrigado, querido Gabriel, pela lição que jamais esquecerei: quem faz Aniversário é Jesus!

Roberto Tannus – escritor e pregador

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